Matéria publicada em 12/08/2025

Água, Saneamento e Clima: o déficit estrutural que compromete a adaptação climática

O déficit de saneamento no Brasil compromete a adaptação climática. É preciso integrar infraestrutura, proteção de mananciais e gestão eficiente para reduzir riscos.

O Brasil se comprometeu, por lei, a universalizar o acesso à água potável e ao tratamento de esgoto até 2033. Cinco anos após o início do Marco Legal do Saneamento, o avanço é desigual: enquanto algumas capitais estão próximas de atingir as metas, centenas de municípios pequenos e médios não têm recursos técnicos ou financeiros para sair do patamar crítico. Hoje, segundo o Instituto Trata Brasil, mais de 33 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água tratada, e cerca de 90 milhões não contam com coleta e tratamento de esgoto.

Essa deficiência é um problema climático, não apenas social. Eventos extremos — secas prolongadas, enchentes repentinas — afetam diretamente a disponibilidade e a qualidade da água. Sistemas frágeis de abastecimento e esgotamento sanitário não resistem a essas pressões. O resultado é uma escalada de doenças de veiculação hídrica, perda de produtividade e aumento de custos para governos e empresas.

Durante o São Paulo Climate Week 2025, especialistas reforçaram que o investimento em infraestrutura hídrica precisa vir acompanhado de proteção de bacias e mananciais. Restaurar matas ciliares, controlar uso do solo e evitar poluição difusa não são medidas opcionais: sem elas, mesmo sistemas modernos colapsam em períodos de crise. Casos como o da bacia do Rio Jundiaí, em São Paulo, mostram que ações integradas de saneamento e recuperação ambiental melhoram a resiliência hídrica e reduzem custos operacionais no longo prazo.

No setor privado, empresas intensivas em uso de água já percebem que depender exclusivamente de fornecimento público instável é um risco operacional. Isso tem levado à adoção de soluções como reuso de efluentes tratados, captação de água de chuva e monitoramento de consumo em tempo real. Essas práticas não substituem a necessidade de um sistema público eficiente, mas aumentam a segurança hídrica e reduzem a pressão sobre os mananciais.

O desafio não é técnico, mas político e de governança. O Brasil dispõe de tecnologia para atingir as metas de universalização; o que falta é capacidade de coordenação entre entes federativos, prestadores e setor privado, além de modelos de financiamento que viabilizem obras em localidades de baixa atratividade econômica. Iniciativas como fundos de investimento em saneamento e parcerias público-privadas mostram potencial, mas ainda estão restritas a regiões economicamente mais fortes.

Se o país quiser cumprir sua meta legal e, ao mesmo tempo, se preparar para um clima mais extremo, precisará tratar saneamento como infraestrutura estratégica, no mesmo patamar de energia e transporte. Isso significa priorizar obras, integrar gestão ambiental e garantir previsibilidade regulatória para atrair capital. Sem isso, qualquer plano de adaptação climática será insuficiente.

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